Entrei para o Facebook há uns meses, vendo-o como mais uma rede social. Adicionei os amigos do costume e mais alguns novos, fiz e recebi convites.
Dentro do Facebook funcionam milhares de aplicações (quizzes para todos os gostos e sem gosto nenhum, envio de sorrisos, beijos, corações, fraldas sujas, flores e tudo o mais que se possa imaginar).
Há pouco mais de um mês recebi um convite de um amigo para me juntar à sua "mafia" no jogo "Mafia Wars", um jogo no qual o objectivo é combater as outras "famílias de mafiosos", supostamente praticando todo o tipo de ilegalidade e violência. Aceitei o convite para o ajudar a fazer crescer a sua "família", mas entretanto viciei-me no jogo.
Sucede, porém, que o Mafia Wars é muito mais do que um jogo.
Para avançar precisamos não apenas de ter muitos amigos - porque só com uma "família" grande conseguimos resistir aos ataques das "famílias" rivais - mas também de armas e outros objectos. Ora, são as trocas entre os membros da família que a tornam mais forte como um todo: as armas, os telemóveis indetectáveis, as cartas chantagistas, os registos de transacções ilegais são itens necessários ao progresso do jogo. Quanto mais eu avançar mais forte fico, portanto mais posso ajudar. Para eu ficar forte os membros mais fortes da família dão-me os itens de que eu necessito, e que normalmente têm em excesso e não podem utilizar.
O egoísmo ou a ganância prejudicam não só o jogador individual mas também a família a que pertence.
Entrei devagarinho, a tentar perceber as regras daqueles que estavam em níveis muito mais avançados e tinham "famílias" gigantescas (a partir de certo nível ter menos de 500 amigos no Mafia Wars é suicídio).
Aprendi que não se espera que eu agradeça quando me mandam um item de que preciso: é suposto eu retribuir ajudando um membro da "família" que seja mais fraco do que eu.
É mal visto roubar as propriedades de outras "mafias" (hipótese que o jogo oferece mas que só é utilizada por quem pertence a grupos pequenos, que ataca e foge em vez de enfrentar uma luta "cara a cara").
Quando alguém de outra "mafia" ataca alguém da nossa "família" a ponto de o deixar na bancarrota, ou se o puser várias vezes na lista dos "procurados"para ser "abatido" é lançado um alerta e todos retaliam, em defesa do membro mais fraco.
O jogo está activo 24 horas por dia: tenho amigos mafiosos virtuais na Austrália, na Ásia, na Europa e no continente americano. De manhã os indonésios estão a despedir-se para ir dormir, e à hora de almoço começam a aparecer os americanos, para umas "lutas" antes de irem trabalhar.
Há pouco tempo um amigo americano postou um desabafo: estamos a jogar em 5 continentes, 24 horas por dia, 7 dias por semana, ajudando-nos uns aos outros, sem olhar a raça, credo, sexo ou o que seja: os líderes dos nossos países deviam era vir jogar este jogo para aprenderem como é possível conviver, entreajudar, defender os fracos e distribuir a riqueza em excesso, em prol do bem comum.
Eu sou suspeita, porque estou viciada no jogo, mas acho que ele tem toda a razão!