quarta-feira, 25 de março de 2009

Encruzilhadas

Há quem inicie o estágio de advocacia sem ter a certeza de que quer ser advogado.
Findo o curso, pareceu ser o caminho natural...
Sucede que para se poder ser advogado é preciso ultrapassar inúmeras dificuldades, a começar em possíveis reprovações nas provas durante o estágio e a acabar na dificuldade em explicar a um cliente que o nosso trabalho tem de ser pago a tempo e horas.
Há certamente quem se interrogue, durante e após o estágio, se vale a pena continuar a insistir em querer ser advogado.
O que sei é que é preciso gostar muito de trabalhar como advogado para se poder sê-lo. É preciso ter paixão, acreditar na importância do serviço que prestamos e estar disposto a abdicar de muitas coisas, a começar pelo tempo dedicado à família.
Sem paixão pela profissão não vale a pena continuar. Mais vale desistir e ir fazer outra coisa qualquer.
Porque não é um drama não poder ser advogado. O que é um drama é insistir em fazer uma coisa que não nos traga felicidade, porque a nossa felicidade - e a daqueles que amamos - é aquilo que interessa, no fim do caminho.
São as dificuldades que encontramos pelo caminho que nos colocam perante encruzilhadas, e se é (parece) evidente que há casos em que a escolha não é difícil, noutras situações ficamos hesitantes na escolha.
Quando eu hesito, obrigo-me a parar e a olhar "para dentro". Não procuro a solução mais fácil ou mais confortável. Procuro aquela que me parece que me fará feliz.
Se para atingir a felicidade naquilo que faço tiver de afastar as pedras do caminho, afastarei as pedras.
O que não farei é conformar-me com a mediocridade de desejar apenas o possível.
Aquilo que podemos pensar que é impossível está à distância de um gesto: o acto de mudar o que precisa de ser mudado.
Façam o favor de ser felizes!

4 comentários:

  1. Já tinho ouvido sons de floresta, tam-tans dispersos, de que esta excelente formadora «blogava». Sei agora que o faz sobre este tema fascinante, dever de honra e de vida de todo o Advogado (e Advogada) que se preze e que preze a profissão: ensinar a quem chega (ou quer chegar), para que algo fique quando partirmos.
    E todos partimos, mais tarde ou mais cedo!...
    Excelente ideia.
    Eu cá voltarei, se me permitir a dona da casa, enquanto não me lanço em iguais voos, não em concorrência, mas em paralelo, como no trapézio, voando sobre a ténue malha da justiça que se assemelha, cada vez menos, a uma rede de segurança.
    Triste tempos para quem começa. Mas há sempre que começar, não é?
    Cá voltaremos e força para continuar.
    A escrever e a ensinar!

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  2. Meu querido Luís Paulo
    A casa é sua! Muito obrigada pelas suas palavras.

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  3. Escreveu: "O que sei é que é preciso gostar muito de trabalhar como advogado para se poder sê-lo. É preciso ter paixão, acreditar na importância do serviço que prestamos e estar disposto a abdicar de muitas coisas, a começar pelo tempo dedicado à família."
    Assino por baixo, neste momento, pondero fazer um curso/licenciatura em Psicologia, porque ajuda a complementar a nossa profissão...

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  4. Minha cara Formadora,
    Há pessoas que surgem nas nossas vidas quando pensamos que já temos tudo de estrutura interna para exercermos qualquer profissão e, depois, de mansinho, aprendemos algo de novo que nos reforça mais a tal estrutura interna. A do crer, a do querer, a do procurar saber e aprender e, mais que tudo, aquele betão que dá pelo nome de humildade.
    É sobremaneira conhecida a sua capacidade técnica para o exercício da profissão, da mesma forma inata com que ensina e, nestes dois componentes do seu mister nunca perdeu o norte nem as referências, nunca deixou de ser humilde naquilo em que é grande, enorme.
    Sabendo o que sabe e ensinando como ensina, não carecia de referir constantemente o Dr. José Carlos Mira, mas, no entanto, fá-lo ainda hoje como o fez durante o meu estágio e isso, minha cara amiga, tem um nome, CARÁCTER. Ferramenta indispensável ao exercício coerente da profissão de advogado.
    É por isso que quando li o que agora lhe deixo me lembrei de algumas pessoas da minha vida a quem chamo as “camionetas de betão”, você é uma delas.
    “Pouco conhecimento faz com que as criaturas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam humildes.
    É assim que as espigas sem grãos erguem desdenhosamente a cabeça para o céu, enquanto que as cheias as baixam para a terra, sua mãe.”
    Leonardo Da Vinci
    Bj

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