Por educação, hábito, gosto e mimetismo do ambiente em que iniciei a profissão, sempre me vesti de um modo muito formal na minha vida profissional.
Saia e casaco, ou fato com calças, normalmente preto (lutos sucessivos e formalismo levaram-me a esse hábito, difícil de perder) calças de ganga ocasionalmente, em sextas-feiras sem tribunal e sem clientes...
Sinto com frequência falta de cor na minha roupa, portanto recorro a blusas ou tops coloridos, para misturar com o preto "monótono" (já lá dizia a Ivone Silva que "com um simples vestido preto, eu nunca me comprometo").
Por causa do hábito e também pela idade reparo com frequência na indumentária de outras Colegas com quem me cruzo pelos corredores e nas salas de audiência.
E em várias ocasiões fiquei embasbacada a olhar para algumas Colegas; não por causa de decotes generosos nem mini-saias (a toga tapa uns e outras e há quem fique muito bem quando se apresenta decotada ou de pernas ao léu).
O que já vi e me deixou de cara à banda foram "botas da tropa", saias de ganga esgaçadas nas pontas acompanhadas de alpercatas, camuflados por cima de saias a imitar chintz, quadrados misturados com riscas e lantejoulas, em combinação de cores que não lembram a um daltónico e calças com o gancho algures pelos joelhos, de umbigo à mostra.
Cada um veste-se como quer e gosta, e as cores foram feitas para se usar e alegrar a vida.
Mas interrogo-me se quem se veste assim terá a noção do impacto visual que causa; não nos Colegas, mas no julgador.
Não por acaso sempre evitei roupa informal nos dias em que dou formação. A imagem também se ensina.
Terá uma advogada de se vestir com "monotonia" para ser levada a sério? Estou em crer que não. Mas se calhar ajuda se não parecer que vestiu as primeiras peças que tirou da máquina de secar...
Acho que pela 1ª vez devemos estar em desacordo...mas onde há 2 advogados há 3 opiniões...Mas respeito o seu post
ResponderEliminarPreocupada ficava eu se concordasse(m) sempre comigo :)
ResponderEliminarA sessão é formal, não fica nada mal uma indumentária formal também.
ResponderEliminarMas também já vi uma procuradora de chancas (moules – acho que é assim que se escreve, que enquanto os trabalhos decorriam e por debaixo da tábua da secretária, eu conseguia ver-lhe os pés a esfregarem no tapete. Estava descalça e de repente… ups, pontapé na chanca e lá vem a dita parar quase ao pé da funcionária. Tribunal de Loures em Julho do ano passado.
De calções e chinelos houve um colega que fez comigo uma escala assim no DIAP e era do meu curso de estágio e do Grupo 4.
Quando estive em Moçambique recordo-me que o problema do vestuário era um tema que suscitava acalorados debates. Os ritos dos tribunais moçambicanos, incluindo em matéria de vestuário, são em tudo semelhantes ao nossos. O traje habitual é o fato, a saia casaco, a gravata, tudo em tons escuros. As togas e as becas são em tudo idênticas às nossas. O que marca a diferença é o calor. Suportar este tipo de vestuário com temperaturas superiores a 30º pode ser uma verdadeira tortura. Lembro-me que uma colega, ainda estagiária, se queixou de ter sido impedida de intervir numa diligência porque o juiz entendeu que o decote dela era demasiado generoso. Discutia-se, também, se o modelo das togas, o tecido, a cor, seriam os mais adequados, tendo em consideração o clima. Colocaram-me a questão, e o melhor que consegui fazer foi explicar-lhes por que razão as nossas togas são muito semelhantes aos trajes eclesiásticos em tudo: cor, figurino, tecido. Compreende-se que seja assim quando pensamos na tradição universitária europeia, fortemente associada, desde a Idade Média à Igreja Católica. Os ritos vêm daí. Se esses ritos fazem ou não sentido nas sociedades africanas, provavelmente não fazem. Julgo até que podem ser entendidos como a marca do colonizador, que se mantém até aos dias de hoje.
ResponderEliminarTudo isto para concluir que o rito - todos os ritos - têm uma acentuada carga histórica. Até quando faz sentido mantê-los?
No último par de anos tenho tido várias acções em tribunais algarvios. Um dos aspectos que notei foi a maior exuberância das colegas algarvias no que respeita a vestuário. Fez-me sentir que vinha «de fora». A função do vestuário é precisamente esta: permite distinguir, desde o início, quem é que, estando dentro do edifício, pertence e não pertence ao tribunal. No Algarve, precisamente por causa da forma de vestir, já houve alguras em que me senti «de fora». Por alguma razão, em tempos, o reino era de Portugal e dos Algarves... :-)
Bem registado, Teresa!
Não obstante, e face à ausência de controlo e segurança nos tribunais, as "botas da tropa" podem vir a dar jeito, Dr.ª TAA! :)
ResponderEliminarNão se enxergam...!
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