quarta-feira, 22 de abril de 2009

Monotonia e trouxe-mouxe

Por educação, hábito, gosto e mimetismo do ambiente em que iniciei a profissão, sempre me vesti de um modo muito formal na minha vida profissional.
Saia e casaco, ou fato com calças, normalmente preto (lutos sucessivos e formalismo levaram-me a esse hábito, difícil de perder) calças de ganga ocasionalmente, em sextas-feiras sem tribunal e sem clientes...
Sinto com frequência falta de cor na minha roupa, portanto recorro a blusas ou tops coloridos, para misturar com o preto "monótono" (já lá dizia a Ivone Silva que "com um simples vestido preto, eu nunca me comprometo").
Por causa do hábito e também pela idade reparo com frequência na indumentária de outras Colegas com quem me cruzo pelos corredores e nas salas de audiência.
E em várias ocasiões fiquei embasbacada a olhar para algumas Colegas; não por causa de decotes generosos nem mini-saias (a toga tapa uns e outras e há quem fique muito bem quando se apresenta decotada ou de pernas ao léu).
O que já vi e me deixou de cara à banda foram "botas da tropa", saias de ganga esgaçadas nas pontas acompanhadas de alpercatas, camuflados por cima de saias a imitar chintz, quadrados misturados com riscas e lantejoulas, em combinação de cores que não lembram a um daltónico e calças com o gancho algures pelos joelhos, de umbigo à mostra.
Cada um veste-se como quer e gosta, e as cores foram feitas para se usar e alegrar a vida.
Mas interrogo-me se quem se veste assim terá a noção do impacto visual que causa; não nos Colegas, mas no julgador.
Não por acaso sempre evitei roupa informal nos dias em que dou formação. A imagem também se ensina.
Terá uma advogada de se vestir com "monotonia" para ser levada a sério? Estou em crer que não. Mas se calhar ajuda se não parecer que vestiu as primeiras peças que tirou da máquina de secar...

6 comentários:

  1. Acho que pela 1ª vez devemos estar em desacordo...mas onde há 2 advogados há 3 opiniões...Mas respeito o seu post

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  2. Preocupada ficava eu se concordasse(m) sempre comigo :)

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  3. A sessão é formal, não fica nada mal uma indumentária formal também.
    Mas também já vi uma procuradora de chancas (moules – acho que é assim que se escreve, que enquanto os trabalhos decorriam e por debaixo da tábua da secretária, eu conseguia ver-lhe os pés a esfregarem no tapete. Estava descalça e de repente… ups, pontapé na chanca e lá vem a dita parar quase ao pé da funcionária. Tribunal de Loures em Julho do ano passado.
    De calções e chinelos houve um colega que fez comigo uma escala assim no DIAP e era do meu curso de estágio e do Grupo 4.

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  4. Quando estive em Moçambique recordo-me que o problema do vestuário era um tema que suscitava acalorados debates. Os ritos dos tribunais moçambicanos, incluindo em matéria de vestuário, são em tudo semelhantes ao nossos. O traje habitual é o fato, a saia casaco, a gravata, tudo em tons escuros. As togas e as becas são em tudo idênticas às nossas. O que marca a diferença é o calor. Suportar este tipo de vestuário com temperaturas superiores a 30º pode ser uma verdadeira tortura. Lembro-me que uma colega, ainda estagiária, se queixou de ter sido impedida de intervir numa diligência porque o juiz entendeu que o decote dela era demasiado generoso. Discutia-se, também, se o modelo das togas, o tecido, a cor, seriam os mais adequados, tendo em consideração o clima. Colocaram-me a questão, e o melhor que consegui fazer foi explicar-lhes por que razão as nossas togas são muito semelhantes aos trajes eclesiásticos em tudo: cor, figurino, tecido. Compreende-se que seja assim quando pensamos na tradição universitária europeia, fortemente associada, desde a Idade Média à Igreja Católica. Os ritos vêm daí. Se esses ritos fazem ou não sentido nas sociedades africanas, provavelmente não fazem. Julgo até que podem ser entendidos como a marca do colonizador, que se mantém até aos dias de hoje.
    Tudo isto para concluir que o rito - todos os ritos - têm uma acentuada carga histórica. Até quando faz sentido mantê-los?

    No último par de anos tenho tido várias acções em tribunais algarvios. Um dos aspectos que notei foi a maior exuberância das colegas algarvias no que respeita a vestuário. Fez-me sentir que vinha «de fora». A função do vestuário é precisamente esta: permite distinguir, desde o início, quem é que, estando dentro do edifício, pertence e não pertence ao tribunal. No Algarve, precisamente por causa da forma de vestir, já houve alguras em que me senti «de fora». Por alguma razão, em tempos, o reino era de Portugal e dos Algarves... :-)

    Bem registado, Teresa!

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  5. Não obstante, e face à ausência de controlo e segurança nos tribunais, as "botas da tropa" podem vir a dar jeito, Dr.ª TAA! :)

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