segunda-feira, 22 de junho de 2009

Professores com paixão

Os professores que marcaram a minha vida não foram aqueles que eram sábios (que os tive).
Foram aqueles com dedicação, paciência e empenho tais que a paixão pelo ensino era evidente. São aqueles em quem eu reconheci um Mestre que nada mais queria do que ser suplantado pelos seus aprendizes. E que fazia tudo, mas mesmo tudo, para lhes dar as ferramentas para isso.
De todos, destacam-se dois: o Herr Rueffler e o Herr Prien.
O Herr Rueffler começou por ser meu professor de História no 10º ano, e foi depois Director de turma, professor de alemão e de filosofia nos 11.º e 12.º anos.
O Herr Prien foi meu professor de filosofia no 10.º ano e de ética nos 11.º e 12.º anos.
Não podiam ser mais diferentes na aparência.
O Herr Rueffler era um Senhor, sério, bem escanhoado, que usava sempre fato e gravata. Nos 11.º e 12.º anos fez questão de nos passar a tratar a todos por "Sie", fórmula cerimoniosa da língua alemã, como forma de nos chamar a atenção para o facto de sermos adultos e de que de nós se exigia responsabilidade.
O segundo, Herr Prien, calçava sandálias com meias, não havia meio de combinar as cores da roupa (e não era daltónico), usava uma barba mal aparada que lhe tapava o pescoço e estava sempre a rir. Ah, e nunca na vida tratou um aluno a não ser por "Du" (tu).
Mas na substância eram iguais.
Puxavam pelos alunos como se não houvesse amanhã, questionavam-nos e obrigavam-nos a questionar tudo.
Um elogio de qualquer um deles fazia-me andar nas nuvens. E uma repreensão do Herr Rueffler fazia-me ter vontade de me enfiar num buraco.
Eu sempre gostei de filosofia, mas o Herr Prien levou-me a ver a filosofia como a base de tudo. E ele questionava, discordava de tudo e de todos, só para nos obrigar a pensar.
O Herr Ruefller ginasticou-me a mente. Percebeu que eu adorava literatura e filosofia, e às vezes parecia que exigia de mim muito mais do que exigia dos outros. Eu adorava e tentava corresponder.
Lemos dezenas de livros de autores clássicos alemães (no original, como é evidente) e interpretámos centenas de textos, de todo o tipo.
Ele dava-me um trabalho "monstruoso" e eu adorava. Ainda hoje guardo o trabalho que fiz sobre "Rómulo, o Grande", de Friedrich Duerrenmatt, porque sei que ele gostou do trabalho.
Aquilo que eu fui ou sou, como professora e formadora, devo-o a esses dois homens. Foram eles que me transmitiram que se dá a cana, não o peixe, e que é mais gratificante pescar do que apenas comer o que foi pescado por outros.
Houve apenas uma coisa que eu não fiz, e que teria desiludido o Herr Rueffler se soubesse.
Só o conto agora: não li "Faust" no original até ao fim. Era uma "seca" (não estão a ver o que é ler Goethe em alemão, uma tragédia com aquele volume) e eu sabia que me safava no exame final sem o ler.
No resto, tenho procurado honrar ambos, tal como ao Dr. Mendes Silva. Nunca serei capaz de suplantar aqueles meus Mestres, mas posso tentar fazer igual.

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