Estou por estes tempos a fazer os possíveis para aprender a viver sem uma pessoa que perdi recentemente – nem todas as pessoas nos são levadas pela morte.
Neste momento, por causa dessa perda, lembro-me de outras pessoas que perdi, e a propósito de professores que marcaram a minha vida lembro-me do Dr. Mendes Silva.
Foi meu professor de Português durante aqueles que hoje são designados como 6.º e 7.º anos.
Fui parar à sala dele porque era excessivamente irrequieta para a Dra. Maria de Lourdes, professora no ano anterior. Eu e mais 10 ou 15, que mudaram de professor de Português ao mesmo tempo que eu e pelos mesmos motivos.
Aliás estávamos nós, pré-adolescentes, a “odiar” Gramática Portuguesa, e ali estava ele, aquele Professor simples, com jeito para lidar com gente irrequieta e para lhes abrir a mente.
Na sala dele aprendi a respeitar as palavras e os livros, mas acima de tudo ganhei os alicerces para usar as palavras com propriedade, para saber procurar um sentido naquilo que leio e para pôr em palavras aquilo que me vai no pensamento.
Mas aprendi muito mais, como se isto não chegasse!
Um dia esquecera-me de que tinha uma redacção para fazer, e só por volta da hora do jantar me lembrei. Escrevi umas páginas quase em cima do joelho e entreguei-as no dia seguinte.
Quando me devolveu o trabalho corrigido percebi que fora “apanhada”.
- Fizeste isto a correr, não fizeste?
Tive de admitir que sim, e perguntei como descobrira. Respondeu que “quando escreves a correr inclinas a letra para a direita.”
Fiquei fascinada. Ele preocupava-se comigo – connosco - o suficiente para perceber a diferença na inclinação da letra, não se limitava a corrigir o conteúdo…
O elogio pelo conteúdo desse trabalho, todavia, ensinou-me outra coisa, da qual só me apercebi anos depois: eu trabalho melhor sob pressão.
Foi com ele que comecei a estudar os autores clássicos, e li Eça de uma ponta à outra em poucas semanas. Ele viciou-me na leitura e na escrita.
Foi também com ele que aprendi a fazer divisão de orações, que mais de 25 anos depois me ajudou e ajuda a explicar, no Mapa VI da LOFTJ, a alínea b) a propósito da competência territorial dos Tribunais de Família e Menores.
Cheguei à sala dele a detestar Gramática Portuguesa. Saí da sala dele, dois anos depois, a amar as Letras.
Vem isto a propósito de professores que marcaram a minha vida, mas também a propósito de perdas, porque foi o Dr. Mendes Silva a primeira pessoa que perdi, 3 ou 4 anos depois, num domingo à tarde, na EN1, quando um camião se despistou contra o carro dele.
Neste momento, por causa dessa perda, lembro-me de outras pessoas que perdi, e a propósito de professores que marcaram a minha vida lembro-me do Dr. Mendes Silva.
Foi meu professor de Português durante aqueles que hoje são designados como 6.º e 7.º anos.
Fui parar à sala dele porque era excessivamente irrequieta para a Dra. Maria de Lourdes, professora no ano anterior. Eu e mais 10 ou 15, que mudaram de professor de Português ao mesmo tempo que eu e pelos mesmos motivos.
Aliás estávamos nós, pré-adolescentes, a “odiar” Gramática Portuguesa, e ali estava ele, aquele Professor simples, com jeito para lidar com gente irrequieta e para lhes abrir a mente.
Na sala dele aprendi a respeitar as palavras e os livros, mas acima de tudo ganhei os alicerces para usar as palavras com propriedade, para saber procurar um sentido naquilo que leio e para pôr em palavras aquilo que me vai no pensamento.
Mas aprendi muito mais, como se isto não chegasse!
Um dia esquecera-me de que tinha uma redacção para fazer, e só por volta da hora do jantar me lembrei. Escrevi umas páginas quase em cima do joelho e entreguei-as no dia seguinte.
Quando me devolveu o trabalho corrigido percebi que fora “apanhada”.
- Fizeste isto a correr, não fizeste?
Tive de admitir que sim, e perguntei como descobrira. Respondeu que “quando escreves a correr inclinas a letra para a direita.”
Fiquei fascinada. Ele preocupava-se comigo – connosco - o suficiente para perceber a diferença na inclinação da letra, não se limitava a corrigir o conteúdo…
O elogio pelo conteúdo desse trabalho, todavia, ensinou-me outra coisa, da qual só me apercebi anos depois: eu trabalho melhor sob pressão.
Foi com ele que comecei a estudar os autores clássicos, e li Eça de uma ponta à outra em poucas semanas. Ele viciou-me na leitura e na escrita.
Foi também com ele que aprendi a fazer divisão de orações, que mais de 25 anos depois me ajudou e ajuda a explicar, no Mapa VI da LOFTJ, a alínea b) a propósito da competência territorial dos Tribunais de Família e Menores.
Cheguei à sala dele a detestar Gramática Portuguesa. Saí da sala dele, dois anos depois, a amar as Letras.
Vem isto a propósito de professores que marcaram a minha vida, mas também a propósito de perdas, porque foi o Dr. Mendes Silva a primeira pessoa que perdi, 3 ou 4 anos depois, num domingo à tarde, na EN1, quando um camião se despistou contra o carro dele.
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